domingo, 29 de novembro de 2009

O que é Ética?




O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.

A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética.

Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc.

Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual pertence é chamado de antiético, assim como o ato praticado.

sábado, 28 de novembro de 2009

Mudança na Família

Vovô vai à Justiça

Como a "nova família" mudou a realidade
dos tribunais brasileiros

Anna Paula Buchalla ( Fonte: Revista Veja)
 
Ricardo Benichio
O casal Emílio e Maria Amélia, com o neto: briga pelo direito de visita
Existem diversas maneiras de acompanhar a evolução de uma sociedade. Uma das mais curiosas é observar os processos em andamento nas varas de família espalhadas pelo Brasil. No tempo em que a chamada unidade familiar padrão era formada de pai, mãe e filhos, os casais procuravam a Justiça para dratar de separação e, bem mais tarde, do divórcio. Nos últimos anos, a chamada unidade padrão desapareceu e os tribunais foram invadidos por um sem-número de casos novos. O padrasto entra com ação para conseguir da ex-mulher o direito de ver o enteado. Depois de morar juntos por vários anos, o rapaz move processo contra seu parceiro na disputa por um quinhão do patrimônio que construíram. Como o Código Civil brasileiro é de 1916, tais litígios tiram o sono dos advogados e fazem juízes e desembargadores quebrar a cabeça em busca de uma solução coerente. "São questões que caem no subjetivismo do juiz", diz o advogado Sérgio Marques da Cruz Filho, sócio de uma das bancas de direito de família mais tradicionais do país. E tudo porque as leis ainda não foram adaptadas aos novos padrões de comportamento.
Os números ajudam a mostrar que o conceito de família está mudando. Dez anos atrás, havia menos de 100.000 divórcios por ano no Brasil. Hoje são cerca de 200.000, e de cada dez casamentos em pelo menos um deles um dos cônjuges está se casando pela segunda vez. São milhares de crianças vivendo com seus padrastos. Isso explica o aumento do número de casos referentes a regime de visitação na Justiça. Mesmo quando a separação é consensual, é obrigatório que se defina o regime de visitas, dias e horários em que um dos cônjuges tem direito de estar com o filho. "Criar normas para essa confusão toda é muito difícil", diz a advogada Floriza Verucci, membro da comissão que estuda um novo estatuto de família para reforma do Código Civil. "A questão é tão delicada que se pensa até num código específico para a família."
Em meio a essas mudanças, os advogados notaram que até aquela figura doce dos avós foi parar no tribunal. "Eles se tornam vítimas de uma separação conturbada", afirma Marques da Cruz. A polêmica que os levou à Justiça é a seguinte: vovô e vovó têm direito de visitar os netos quando os pais da criança (em alguns casos seus próprios filhos) fazem objeção? A lei não dedica uma linha ao assunto, mas ele é de vital importância. "Os avós são parte da família e o menor tem direito a essa companhia", diz o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Marcio Bonilha. "Como ele não tem capacidade de discernimento, cabe ao juiz olhar em seu benefício", acrescenta.
Foi o que fez o casal Emílio e Maria Amélia Zaidan, de São Paulo, entrar com um pedido na Justiça. O neto deles, também Emílio, então com 4 anos, estava acostumado a conviver com os avós maternos desde a morte de seu pai, quando ele ainda era um bebê de 9 meses. Nessa época, sua mãe, Silvia, fez uma triste escolha. Foi viver com um homem que se envolveu com o crime e privou o filho de qualquer contato familiar. "A situação era séria e nos deixava muito tristes", lembra Maria Amélia. Ficou acertado que eles poderiam ver o menino uma vez por semana e durante um fim de semana a cada quinze dias. "Quando ele tinha de voltar para sua casa, era um drama", diz o avô Emílio. Hoje com 19 anos, Emilinho, como é chamado, vive com os avós (sua mãe faleceu há seis anos), cursa faculdade de turismo e tem sociedade num restaurante japonês.

Skinhead

Já fui um deles

Primeiro skinhead a deixar a gangue e
denunciar os colegas, rapaz de 20 anos
mostra como jovens podem aderir à
selvageria como se fosse coisa normal

Monica Weinberg ( fonte: Veja on -line)

André Brant/André Penner/Egberto Nogueira/Omar Paixão/André Brant

 
O maior medo de Jorge é ser assassinado. O segundo é encontrar um skinhead na rua – "porque se isso ocorrer eu serei um homem morto". Jorge da Conceição Soler tem 20 anos, é negro, usa óculos, carrega um terço no pescoço e nunca se preocupou em ganhar músculos para se exibir nos embates de rua. Tem o perfil adequado para ser uma presa dos skinheads (cabeça raspada, em inglês), nome pelo qual são conhecidos esses militantes da intolerância e da selvageria que costumam espancar nas ruas negros, gays, nordestinos ou punks pelo fato de serem negros, gays, nordestinos ou punks. Mas Jorge Soler foi, ele próprio, um skinhead. Durante três meses pertenceu ao grupo Carecas do ABC, que não discrimina os negros, mas nutre ódio especial contra homossexuais, estrangeiros e punks. Chegou a testemunhar – segundo ele, sem tocar um dedo – o espancamento que levou à morte o adestrador de cães Edson Neris da Silva, que passeava de mãos dadas com o namorado no centro de São Paulo, em fevereiro passado. "Eu via um homossexual no meio da rua e evitava olhar. Morria de nojo dos punks", diz.

Ricardo Benichio
Jorge Soler, que está sob os cuidados do programa de proteção à testemunha
Jorge Soler é o primeiro caso de que se tem notícia no Brasil de um skinhead que abandonou o movimento e denunciou seus colegas de pancadaria. Depois de três meses na prisão, junto com outros dezessete skinheads dos Carecas do ABC, acusados de formação de quadrilha e homicídio, Jorge resolveu trocar de vida. Denunciou cinco colegas pela morte do adestrador e passou a colaborar com a Justiça. Hoje, respondendo em liberdade a processo por homicídio cujo julgamento deve ocorrer até o final do ano, ele aderiu ao programa de proteção à testemunha, cuja missão é garantir sua vida.
Filho único de uma dona-de-casa e um comerciante, Jorge mudou-se com os pais para o interior de São Paulo e sua casa é permanentemente vigiada por policiais. Formado no ensino básico, queria cursar administração de empresas, mas tem medo de entrar na universidade. Receia que, com uma rotina definida, vire alvo fácil dos skinheads. Em vez de estudar, ganha menos de quatro salários mínimos trabalhando como corretor de imóveis, uma atividade cuja rotina é menos previsível.
"Venha curtir" – Na história de Jorge Soler, chama a atenção a naturalidade com que se envolveu com os Carecas do ABC. Seu depoimento mostra que resolveu cerrar fileiras ao lado da boçalidade discriminatória com a simplicidade de alguém que aceita um convite para ir a uma festa. Um dia, no final do ano passado, ele saiu de casa em Diadema, cidade paulista conhecida pelas altíssimas taxas de homicídio, para comprar um CD de rock, tipo de música abominado pelos skinheads. No caminho, foi abordado por um membro dos Carecas do ABC. Era a primeira vez na vida que tinha contato com um skinhead. O rapaz convidou-o para um encontro do grupo num bar no centro da capital paulista. Ele foi. Gostou da conversa dos militantes mais velhos, que funcionam como líderes. Todos tinham em comum um emprego remunerado e o lema "Deus, pátria e família". "Me identifiquei logo. Eles disseram: 'Venha curtir com a gente'. E eu aceitei o convite", conta.
Em poucos dias, raspou o cabelo, passou a freqüentar as reuniões mensais sempre feitas em bares de São Paulo, qualquer bar, sem nenhum cuidado especial para evitar que fossem ouvidos. No dia em que matariam o adestrador de cães, os Carecas do ABC se reuniram num bar a 2 quilômetros da Praça da República, onde o rapaz seria morto. Em geral, nessas reuniões, fala-se do ódio aos punks, aos gays, da raiva de algum deles contra alguém que tenha queimado a bandeira nacional no Dia da Independência, do sopapo que um deles deu em um punk com que cruzou na rua. No meio da pauta de brutalidades, também se fala, nessas ocasiões, sobre assuntos amenos, como namoradas ou futebol. Em véspera de datas cultuadas pelos Carecas do ABC, como o Descobrimento do Brasil ou a Independência, o tema são as comemorações. Alguns produzem panfletos caseiros para distribuir, pregando sempre o lema "Deus, pátria e família".
Como a maioria dos militantes dos Carecas do ABC, Jorge Soler também nada contava aos pais. "Eu tinha vergonha de falar do que fazíamos", diz. Com sua adesão ao grupo, as agressões gratuitas passaram a fazer parte da vida do jovem de Diadema. "Quando alguém aparecia numa reunião contando que tinha esmurrado um punk, eu ficava com uma sensação de que a justiça havia sido feita", diz ele. Foi só no dia do assassinato de Edson Neris da Silva que Jorge se deu conta da barbaridade em que estava metido. "Até aquele momento achava a violência normal", conta. Mesmo porque não era a primeira vez que seu grupo batia num homossexual. Na mesma Praça da República onde morreu Edson, os Carecas do ABC tinham espancado Marcos Daniel Braga – que, por sorte, escapou da fúria com vida.
Prática esportiva – Os Carecas do ABC surgiram no início dos anos 80, inspirados no integralismo de Plínio Salgado, que, por sua vez, se nutria do ideário do fascismo italiano e do nazismo alemão. O movimento, porém, não prega a idéia da supremacia branca de Hitler, mas combate punks, gays e a presença de estrangeiros – especialmente gente procedente de países latino-americanos mais pobres, como Paraguai e Bolívia. Para eles, nenhum problema em relação a alemães, ingleses ou franceses. Na época em que entrou no grupo, e ainda hoje, Jorge não tinha mais que uma noção dos "fundamentos teóricos" dos skinheads, aquela sopa confusa e rudimentar em que se misturam pitadas de integralismo, nazismo e outras idéias exóticas da mesma família. Os integrantes dos Carecas do ABC pertencem, em geral, à classe média baixa. Boa parte trabalha como segurança, office-boy, secretário. O número de membros gira em torno de 100 na Grande São Paulo. E, como no caso de Jorge, talvez boa parte deles julgue praticar um esporte – espancando e matando. Só isso. Quando se constata a banalização da violência no país, nada parece mais eloqüente do que casos assim.
 
Stephen Kanitz*

Gente como a gente 


                                        

"Teremos de fazer um pequeno esforço para conhecer novamente nossos vizinhos, apesar
de chatos, apesar das opiniões diferentes e
dos gostos musicais irritantes"


Boa parte da história da humanidade transcorreu em uma época na qual a maioria da população vivia em pequenas vilas e cidades com no máximo 10.000 habitantes. Isso significa que havia, em média, 200 pessoas em sua faixa etária, que você conhecia por nome e sobrenome.

Nem todas eram simpáticas, brilhantes e alegres como você, mas, se quisesse ter amigos, você teria de aprender logo cedo a aceitar as idiossincrasias e diferenças de opinião. Muitos dos filósofos da época escreviam sobre tolerância, uma virtude necessária para os tempos.
Hoje, a situação é diametralmente oposta. A maioria da população brasileira vive em grandes centros urbanos, fenômeno com menos de quarenta anos de existência. Ainda não aprendemos a conviver com essa nova situação. Por exemplo, nem dá para pensar em conhecer as 100.000 pessoas em sua faixa etária de sua metrópole. De quarenta anos para cá, começamos a fazer algo que nossos antepassados não podiam: selecionar nossos amigos.
Podemos, agora, criar um seleto grupo de amigos, gente-como-a-gente. Pessoas com os mesmos interesses, com as mesmas manias, que pensam politicamente do mesmo jeito, que têm os mesmos gostos e opiniões.
Se seu vizinho é um chato ou tem opiniões contrárias, você simplesmente o ignora e se desloca até o outro lado da cidade para encontrar um amigo. Gente chata nunca mais. Virtudes como tolerância, respeito, curiosidade intelectual não são sequer mais discutidas, muito menos veneradas. É cada um por si e seus amigos.
Com a internet, a situação piorou, e muito. Agora existem sites que permitem que descubramos gente-como-a-gente do outro lado do mundo, através de "comunidades virtuais", e-grupos, e-amigos, enfim.
A Amazon Books, por exemplo, avisa-me de outros clientes que compraram exatamente os mesmos livros que eu comprei. Gente do mundo inteiro que tem os mesmos interesses, um pequeno grupo de gente-como-eu.
Isso, no entanto, está longe de ser uma comunidade, no sentido antigo da palavra. Se não tomarmos cuidado, viraremos um bando de narcisistas olhando no espelho.
Jamais iremos criar uma sociedade de união universal como pregam os social-internautas. Somente aumentaremos a intolerância, a falta de compreensão, compaixão e humildade local. Aumentaremos também a arrogância, com a auto-alimentação de grupos que terminarão se achando donos da verdade.
Não vou sugerir uma volta ao passado nem negar que é um prazer conhecer gente-como-a-gente do mundo inteiro, e prevejo que provavelmente iremos continuar nesse caminho.
Mas teremos de fazer um pequeno esforço para conhecer novamente nossos vizinhos, apesar de chatos, apesar das opiniões diferentes, dos gostos musicais irritantes, e assim por diante. Se você parar uma vez na vida e conversar com seu vizinho, poderá descobrir que no fundo ele até que tem coisas interessantes e diferentes a dizer. Você poderá descobrir que existe uma virtude em ser tolerante, compreensível e aberto a novas idéias.
Se cada um se fincar na sua trincheira, criando batalhões de amigos que pensam igualzinho, iremos caminhar numa rota perigosa para o futuro.
Meu site voluntarios.com.br dá preferência proposital às entidades próximas ao endereço em que você mora. Talvez não haja uma de que você goste em seu bairro, mas esse é justamente o espírito da filantropia e do voluntariado: não se faz o que se "gosta", mas o que é necessário ser feito.
Portanto, se você tem um vizinho chato, cumprimente-o de forma diferente da próxima vez que o encontrar. Dê um sorriso encantador. Convide-o a ir a sua casa ou apartamento. Vamos começar a aprender a conviver com gente-que-não-é-tão-parecida-com-a-gente. O mundo ficará bem melhor.
 
Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)

Cotas na Universidade para Negros

O arsenal jurídico e ético da igualdade 




Inaugurado no Brasil em 2001, quando o Rio de Janeiro instituiu o primeiro modelo em suas duas universidades estaduais, o sistema de cotas para minorias (negros e egressos de escolas públicas) no Ensino Superior ainda gera polêmica.

Cotas privilegiam alguns em detrimento de outros; cotas admitem que alguns cidadãos brasileiros são diferentes de outros; cotas, mais concretamente, dão a uma pessoa que se declara negra o direito a uma vaga na universidade mesmo que seu desempenho no vestibular tenha sido inferior ao de outro candidato. Como não se cansam de lembrar os adversários das cotas, tudo isso parece violar a Constituição brasileira e o princípio da igualdade ali exposto. Mas todo esse arsenal jurídico e ético é (e era) mobilizado para defender que esta igualdade se dê antes do vestibular? Antes da proposição das cotas, a desigualdade de formação das crianças e dos jovens brasileiros era alvo de tantos protestos? Os negros não são menos capazes. Então, por que permanecem como minoria nas universidades públicas brasileiras? Se todos os críticos das cotas e de suas deformações despenderem a mesma energia na luta pela igualdade das condições na base educacional e se forem tão críticos em relação ao que o ensino público é, a polêmica produzida pelas cotas já terá cumprido um papel importante. Uma proposição de discussão: existe um clamor público contra as condições extremamente desiguais da educação no Brasil?

Escola pública
O sistema público de educação é desigual: no Ensino Superior, ele é mais bem estruturado. Nossas melhores universidades são públicas e dedicam-se ao ensino e à pesquisa, algo que poucas instituições privadas conseguem fazer. Por sua vez, nos níveis fundamental e médio, a realidade é outra. Em especial nas grandes metrópoles, os indicadores obtidos nos exames nacionais mostram um quadro desalentador nas escolas públicas. Qual é a conseqüência social dessa condição? Ninguém de "classe média baixa" para cima coloca seus filhos em escola pública e todos os outros que não podem migrar para o sistema privado permanecem como "derrotados" na rede pública. Não é verdade que está estabelecida a idéia de que ascender socialmente, vencer na vida, é conseguir migrar dos serviços públicos — educação, saúde e transporte coletivo — para os serviços privados — escola particular, convênio médico e automóvel? Se socialmente está legitimada a opção pelo ensino privado como o melhor, quem vai pressionar o estado a investir e melhorar o ensino público? É evidente que ele precisa evoluir, mas há um clamor para isso? Quem, em sã consciência, pode ter uma expectativa real de mais qualidade no ensino público no Brasil?

Enquanto essa possibilidade absolutamente incerta não dá nenhum indício sério de realização, como ficam as populações que estão condenadas ao ensino público? Sem cotas e sem universidade. Não é possível admitir que a idéia das cotas é uma medida de choque contra esse quadro imóvel? Pode ser uma medida discutível, mas causou algum abalo nessa inércia trágica. Como recuperar a escola pública, considerando esse contexto, é uma boa discussão promovida pela idéia das cotas.

O que fazem as universidades

Algumas universidades adotaram um regime de cotas para o ingresso nos seus quadros. A maioria delas, porém, não agiu dessa maneira. Apesar disso, a proposição de cotas causou mudanças, mesmo nas instituições em que foi negada. Por exemplo: descobriu-se, em algumas delas, que muitos "candidatos a candidatos" não se inscreviam no vestibular porque nem sequer tinham recursos para pagar a inscrição. Essa constatação resultou em formas de garantir a inscrição, isentando os candidatos carentes dessas taxas.

A recusa das cotas obrigou os que eram contra elas a apresentar propostas melhores para solucionar a questão da desigualdade de oportunidades. E levou as universidades a se importarem com o que acontece no universo dos candidatos que as procuram. Mas ainda há muito a fazer.

Um exemplo significativo da maior universidade brasileira, a Universidade de São Paulo: praticamente não há professores formados em seus cursos que exercem a profissão no sistema público do mesmo estado, só na rede privada. Se a universidade pública pretende (e deve) interferir no quadro do ensino básico, garantindo algum nível de igualdade de oportunidades, não deveria trabalhar no sentido de estimular a presença de seus formandos no sistema público? Eis aí outra boa discussão: o que as universidades devem fazer para democratizar as oportunidades de trabalho?

E aí? Qual é a sua opinião sobre o assunto? Vamos debater em sala de aula.

Filme : O Show de Truman

O Show de Truman
A TV e o show da vida
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Muito antes dessa onda de shows televisivos que invadem a privacidade de pessoas anônimas ou de celebridades (refiro-me a Casa dos Artistas e ao Big Brother) tomarem conta da televisão foi lançado um filme nos cinemas (que fez grande sucesso) cuja temática explora, justamente essa questão tão essencial a todos nós, a privacidade.
Era "O Show de Truman", do competente diretor Peter Weir (o mesmo de "A Testemunha" e "Sociedade dos Poetas Mortos", filmes que merecem ser conferidos), estrelado pelo careteiro Jim Carrey (em seu melhor papel até aquele momento).
Truman (Jim Carrey), o sujeito do tal show, é um inocente, cuja vida tem sido transmitida ao vivo e em cores para os Estados Unidos inteiro em canal de TV paga. Desde o seu nascimento, até o momento em que a história se desenvolve, tudo o que se refere ao personagem de Carrey aparece na TV 24 horas por dia.
O problema é que ele é o único personagem dessa novela da vida real que não sabe o que está acontecendo, tudo o que ocorre ao seu redor é fictício, seu emprego é uma criação, seu casamento uma farsa (assim como foram o romance, a sedução e o namoro com sua esposa), seus amigos estão junto dele por estarem cumprindo um contrato como atores da rede que transmite o "Show de Truman".
Todos e tudo que o cerca são, literalmente, artificiais. Cenários compõe a cidade da vida de Truman, os carros são sempre os mesmos, cumprindo o ritual de rodar a cidade e dar a impressão de que a vida segue seu rumo, sua normalidade. Quando vai ao supermercado e adquire um produto, as imagens de Truman segurando e comprando determinados produtos viram marketing para as mercadorias adquiridas.
Nesse ambiente de mentiras, Truman desperta ao quase ser acertado por uma câmera que despenca do alto dos cenários. Seria Deus tentando alertá-lo ou seria apenas um acidente dos "deuses" da mídia televisiva que o colocam no ar todos os dias?
A partir desse incidente, sua relação com o mundo que o cerca muda completamente, ele passa a desconfiar de tudo e de todos, inicia uma procura incessante pelos olhos eletrônicos que estão a monitorá-lo todo o tempo, começa a duvidar da seriedade dos amigos e da esposa, percebe que o mundo ao seu redor repete-se com uma insistência irritante!
Homem-de-mala-com-os-bracos-abertos
Numa época como a nossa, quando a discussão acerca dos direitos das pessoas é uma constante nos cenários nacional e internacional, a questão da privacidade sendo invadida por câmeras de televisão merece uma discussão acalorada em sala de aula. Muitos se perguntam os motivos que levam pessoas a enfrentar, conscientemente, o desafio de serem vistos diariamente por milhões de pessoas como o que ocorre com os já citados programas veiculados por canais abertos e fechados. Alguns, cedem a tentação da fama instantânea, conseguida graças a superexposição na mídia mais procurada por todas as classes sociais, a TV. É um tiro certeiro, as pessoas são reconhecidas nas ruas, tornam-se familiares a milhões de desconhecidos por invadirem seus lares através das telinhas e, com maior ou menor habilidade, conseguem ficar em evidência por mais alguns meses mesmo depois do programa terminar. Outras pessoas arriscam o espaço, a individualidade e, em muitos casos, correm o sério risco de se exporem ao ridículo movidas pelos prêmios milionários dados aos vencedores dessas verdadeiras maratonas.
Mas, e no caso de Truman, levado ao estrelato sem consulta prévia, na mais pura inocência, desconhecedor de sua própria história de vida? Não há dinheiro movendo suas ações, assim como, no seu cotidiano ele não consegue imaginar a repercussão de seus atos e o montante de popularidade por ele obtidos junto ao grande público que acompanha sua "novela da vida real".
Os direitos aos quais temos acesso não terminam quando começam os dos outros? A manipulação da rede de televisão que controlava o "Show de Truman" não consistia portando um desrespeito a um dos direitos essenciais da cidadania? Em que consiste a cidadania senão na consideração pelos outros e por suas dignidades? Não deve existir (e pelo que sei, já existe) por parte das emissoras de televisão um código de ética que não os faça lesar a integridade física e moral das pessoas que são apresentadas em seus programas? O próprio conceito de ética, foi criado para ser violado ou tem valor real e deve, por isso ser respeitado?
Discussões como essas podem nos levar a fomentar aulas interessantes em história, relacionando com o surgimento das Declarações dos Direitos Humanos em diferentes contextos, como no da Revolução Francesa ou no do final da 2ª Guerra Mundial (na época da criação da ONU); pode alimentar interessantes debates para a área de redação, com o adendo de que, o professor pode se utilizar de textos extraídos de jornais ou revistas que façam um contraponto, um termo de arguição e aprofundamento; pode servir como indicador de caminhos para aulas de filosofia e pode gerar o questionamento da questão da própria ética na sociedade em que estamos inseridos.
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Por outro lado, o filme nos lança uma situação das mais interessantes ao afirmar a vida cotidiana como o maior dos espetáculos. Momentos tão desprezados de nossas existências quando realçados pelo brilho dos refletores das câmeras de TV parecem ganhar em vigor, fôlego e graça. Um abraço numa criança, a reunião com os amigos depois do expediente, ler um livro ou dar um beijo na mulher amada ganham contornos de grandes acontecimentos. Será que nós não estamos deixando essas cenas da vida real passarem sem dar a elas o verdadeiro reconhecimento e valor que elas merecem?

Ficha Técnica

O Show de Truman
(The Truman Show)

Direção: Peter Weir Produção:
País: EUA
Ano da Produção: 1998
Duração: 102 minutos
Gênero: Drama
Elenco: Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah Emmerich, Natascha McElhone.

Links

Filme: Ilha das Flores

Ilha das Flores
Encontro marcado com a miséria

Adultos-e-criancas-em-meio-ao-lixao
A miséria é o tópico central do premiadíssimo trabalho do diretor Jorge Furtado. A utilização de um título que contradiz a trama desenvolvida ao longo dos 13 minutos de duração do curta-metragem foi uma das ótimas idéias apresentadas nesse trabalho. Mas não é a única.
A exposição didática das idéias, de forma encadeada, amarrada as informações, na medida em que elas aparecem na narração sólida e segura do ator Paulo José, constituem o eixo em torno do qual acabam gravitando os espectadores.
O ritmo alucinado utilizado para que fiquemos sabendo sobre os tomates do Sr. Suzuki, o perfume de dona Anete, o surgimento do dinheiro e as peculiaridades dos seres humanos (o polegar opositor e o tele-encéfalo altamente desenvolvido), nos dá pouco tempo para refletir sobre toda a informação e exige que acabemos assistindo ao vídeo duas ou até mesmo, três vezes.
Outra característica marcante do curta-metragem Ilha das Flores é a profusão de imagens. É como se tudo fosse uma verdadeira colagem feita pelo diretor e pelos editores do filme. As imagens se sucedem na medida da necessidade de explicação de um conceito apresentado no texto. Chega a ser um tanto quanto enlouquecedor e, nesse aspecto, reside um dos fatores que torna o filme imperdível, todos (inclusive e, especialmente, os alunos) prestam atenção o tempo todo.
O fato de ser um curta-metragem é outro aspecto particularmente interessante para os educadores. Pode ser encaixado facilmente no tempo de uma aula e não permite que os alunos possam sequer esboçar um bocejo.
O mais importante, porém é que "Ilha das Flores" coloca em pauta a discussão acerca da pobreza, da fome e da exclusão social. Levando-se em conta que foi produzido em 1989, dá para perceber que as coisas não mudaram muito entre o Brasil daquela época e o de hoje...
A História
Suino-magro
O Sr. Suzuki, japonês, plantador de tomates, atuando na região de Porto Alegre, despacha seus produtos através de uma Kombi para os supermercados da região metropolitana da capital gaúcha.
Dona Anete, brasileira, vendedora de perfumes, percorre a cidade em busca de pessoas interessadas em adquirir suas mercadorias. Das vendas auferidas e, retirando-se os custos para a aquisição do produto, surge o lucro. Com o lucro, Dona Anete vai a um supermercado de Porto Alegre e compra tomates e carne de porco.
A carne de porco e os tomates são os ingredientes principais na refeição que está sendo preparada por Dona Anete para sua família. Entre os tomates comprados por Dona Anete havia um considerado impróprio para o consumo humano (de acordo com o parecer da personagem). Esse produto deteriorado foi atirado no lixo.
Como acontece todos os dias em várias grandes cidades do Brasil e do mundo, o lixo foi recolhido e enviado para depósitos, localizados a margem das metrópoles. O que é identificado como lixo orgânico é separado e utilizado como alimento para os porcos de um dos criadores estabelecidos num dos lixões de Porto Alegre, ironicamente chamado de "Ilha das Flores".
O problema é que, depois da coleta seletiva, que indicou o que poderia ser aproveitado pelos suínos, outros seres humanos (que como os anteriores também são dotados de tele-encéfalo superior e polegar opositor) passam a disputar as sobras do lixão de Ilha das Flores...

Filme: Crash - No limite

Crash - No Limite
Para rever nossos pecados cotidianos

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Artigo 1
Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2
I) Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
II) Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Os artigos acima foram extraídos da Declaração Universal dos Direitos Humanos criada pela ONU em 1949, logo após a Segunda Guerra Mundial, em que morreram aproximadamente 60 milhões de pessoas, grande parte delas vitimadas pela intolerância, pela discriminação, pelo racismo. Crime bárbaro, hediondo e sem justificativa, qualquer prática que caracterize atos de exclusão, desrespeito aos direitos e as liberdades ou ainda atentado a dignidade humana deveria ser extirpado da face da terra. Não é o que acontece...
Pelo contrário, os casos de discriminação são evidentes e comuns em praticamente todos os continentes. Pessoas são vetadas na busca por um novo emprego pela cor de sua pele; as mulheres têm salários inferiores aos dos homens mesmo quando exercem funções semelhantes; árabes encontram dificuldades para entrar no ocidente por serem vistos como potenciais terroristas mesmo não tendo qualquer ligação política com grupos radicais; idosos sofrem exclusões no mercado de trabalho; hispânicos são menosprezados e destratados ao tentarem entrar em países ricos,...
Vejam que não estamos falando de casos marcantes, que envolvem milhares de pessoas ou que mobilizam lideranças como as de Nelson Mandela, Martin Luther King ou Gandhi. Retratamos nesses exemplos apenas situações do cotidiano para que as pessoas percebam que a intolerância está muito mais perto do que pensamos.
Está, por exemplo, na atitude pedante de pessoas que teimam em indicar o elevador de serviço para pessoas negras apenas pelo fato de imaginarem que esses cidadãos são sempre serviçais ou subalternos; Acontece em situações nas quais as pessoas do interior são tratadas com menosprezo por suas origens mais humildes, como se a relação metrópole-cidade de pequeno porte já não estivesse superada em virtude do avanço das tecnologias; Ocorre quando autoridades ultrapassam os limites de suas prerrogativas funcionais e violam os direitos constituídos de pobres cidadãos...
Crash - No Limite, o grande vencedor do Oscar 2006, é um exemplar e riquíssimo relato desses encontros e desencontros que acontecem cotidianamente na vida das pessoas e que retratam o descaso, o preconceito, a mesquinharia e a premente intolerância contida na cabeça e no coração das pessoas. E não se digam imunes a situações como essas, todos estamos sujeitos a momentos em que nos percebemos discriminando alguém.
Ou será que ninguém nunca se sentiu acuado ao entrar num bairro de periferia e, ao olhar os arredores, vislumbrando as pessoas daquela localidade, se sentir um estranho no ninho e pedir a Deus para sair com vida desse lugar. Santo sacrilégio! Cobertos de preconceito, sem ao menos conhecer os hábitos locais ou nem mesmo abrir o vidro de nossos carros atribuímos a pessoas que desconhecemos idéias que os incriminam e que os marginalizam... Isso não é preconceito?
O mais interessante do filme do diretor e roteirista Paul Haggis é que não há, ao longo da história, um único grupo étnico enfocado como vítima dessa temível praga que assola a humanidade desde tempos imemoriais. Todos são discriminados, todos são discriminadores. Árabes olham com desconfiança os negros, orientais ofendem hispânicos, brancos atentam violentamente contra os direitos civis de qualquer grupo étnico,...
Crash - No Limite não é apenas mais um filme. Trata-se de um documento de época. Mostra nossas mais vergonhosas limitações e enquadra situações que consideramos triviais na categoria de crimes que atentam contra a dignidade humana (ou seria melhor dizer que nos desmascara ao demonstrar alguns de nossos maiores pecados, os quais negamos veementemente?).
É cinema de primeiríssima, para pensar e repensar e, principalmente, para motivar a revisão de muitos de nossos conceitos e práticas...

O Filme
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Paul Haggis criou a partir de seu roteiro um carrossel de fortes emoções. Destinos se cruzam sem que as pessoas se dêem conta. Faz-nos pensar seriamente em sábios pensamentos chineses que dizem que a morte de uma borboleta do outro lado do mundo representa transformações e modificações para a vida de pessoas que estão aqui, ali, acolá...
Não há protagonistas principais nesse filme. Crash tem grandes nomes em seu elenco e atuações memoráveis por parte de Matt Dillon, Brendan Fraser, Sandra Bullock e Don Cheadle, mas são os atores e atrizes que compõem o elenco étnico que dá suporte aos astros que conta as agruras da diferença de cor da pele, das marcas do rosto, da história de seus povos. São eles que fazem as emoções aflorar com facilidade e intensidade nos espectadores.
O elo que os une, de forma invisível aos olhos de todos, é o roubo de um carro perpetrado por dois jovens negros que caminham discutindo a discriminação que perceberam no tratamento a eles dispensado num restaurante. Dessa conversa aparentemente informal e despropositada, apesar da incontida raiva em seus dizeres, surge a constatação de que sua presença naquele refinado bairro da elite branca causa calafrios em algumas das pessoas que passam pelas calçadas dali.
Puro preconceito, pensam eles. O próximo passo? É aproveitar um jovem e aparentemente próspero casal que está indo em direção a uma bela caminhonete e lhes roubar o veículo. Isso desperta nos assaltados enorme rancor, principalmente na mulher, que imediatamente transfere seus temores em relação aos assaltantes para toda a comunidade negra. E quem primeiro sente essa intolerância é o chaveiro que foi contratado para trocar os segredos das chaves da casa do casal...
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É esse mesmo jovem que ao ser acionado para trocar as fechaduras de um estabelecimento comercial pertencente a um iraniano vira alvo de dúvidas por parte desse descendente de árabes em virtude do arrombamento de sua loja ao final daquele mesmo dia. Será que o chaveiro hispânico não facilitou tal roubo?
Ao mesmo tempo os jovens que haviam roubado o carro do casal atropelam um coreano e o socorrem, levando o oriental para o hospital e salvando sua vida. Um dos assaltantes é irmão de um investigador da polícia, que tem uma amante/parceira hispânica a quem atribui grandes dotes enquanto amante e nada mais além disso, pelo contrário, até a desqualifica por suas origens chicanas...
O dono da caminhonete, por sua vez, é um eminente promotor público que sabe que não deve afrontar a comunidade negra para não perder prestígio político. Por isso mesmo ele recrimina a mulher por discriminar o jovem chaveiro e, devido a seus interesses, decide não alardear o roubo de seu carro. Há também a história de um policial que pára um carro luxuoso, semelhante à caminhonete roubada do promotor simplesmente pelo fato do motorista ser negro, mesmo sabendo que as placas não conferem com as do veículo roubado.
Inconformado com o fato da bela mulher do dono desse veículo ter uma tonalidade de pele clara, ele ultrapassa os limites de sua autoridade, ofende a dignidade da mulher, ameaça o homem negro e intimida seu parceiro, claramente aturdido com a situação...
E como termina esse emaranhado de histórias? De forma surpreendente, arrebatadora e inteligente. Paul Haggis escreveu e dirigiu um grande filme, merecidamente vencedor do Oscar e que deve ser visto por todos. Não percam!
Para Refletir
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1- O que perdemos ao agir de forma tolerante, respeitosa e educada? Absolutamente nada. Não há prejuízos, pelo contrário, a tendência é sempre a de que ganhemos, em contrapartida, no mínimo o respeito das pessoas com as quais estamos nos relacionando. Conheço pessoas que podem retrucar respostas como "bom dia por quê?" ao serem cumprimentadas. Estão sempre de mau humor, insatisfeitas com o mundo ao seu redor, amargas demais para entender o quanto significa estar vivo, ter saúde, poder trabalhar, possuir amizades,... Temos que fazer campanhas em prol da tolerância e do bom humor. Não podemos permitir que nossos ambientes domésticos, de trabalho ou estudo sejam contaminados pelo negativismo ou ainda por rancor, infelicidade, discriminação ou falta de respeito.
2- Dialogue com as pessoas. Guarde tempo para conversar com sua família. Reserve espaço para os amigos. Visite seus avós e pais com freqüência. São essas pessoas que irão estar em sua memória quando a existência nessa terra estiver findando. Não nos lembraremos dos bens, das dívidas, dos ressentimentos, das dores ou do trabalho. Iremos nos lembrar do amor, da amizade, do carinho, do respeito e de todos os sentimentos positivos que guardamos em nossa cabeça e em nosso coração. Estendam suas mãos e seu sorriso para essas pessoas e para o mundo e você receberá igual resposta de todos...
3- Organize pesquisas em jornais a serem desenvolvidas por seus alunos em busca de notícias sobre atos de intolerância. Crie um mural com esses artigos nos corredores da escola e reserve um espaço paralelo em que os estudantes possam rever as informações dadas nessas notícias e propor respostas alternativas a toda essa violência e descaso, desrespeito e destrato característicos da sociedade em que vivemos. Seriam como respostas ao preconceito, ao racismo e a todo e qualquer atentado a dignidade humana. São também momentos propícios a reflexão e oportunidades para todos avaliarem suas práticas e sua existência cotidiana.
4- Faça projetos que envolvam várias disciplinas e que mobilizem a utilização de outros recursos culturais como filmes, músicas, biografias, literatura, artes plásticas, teatro e dança para promover a tolerância. Há grandes contribuições que nos foram legadas por pensadores, artistas, políticos, acadêmicos e populares anônimos na luta contra a intolerância. Essas histórias e produções não podem ser desprezadas ou esquecidas. Elas devem servir como estímulo para que o futuro não seja tão parecido com Crash - No Limite...
Ficha Técnica
Crash – No Limite
(Crash)

País/Ano de produção: EUA, 2004
Duração/Gênero: 113 min., Drama
Direção de Paul Haggis
Roteiro de Paul Haggis e Robert Moresco
Elenco: Sandra Bullock, Brendan Fraser, Matt Dillon,
Don Cheadle, Karina Arroyave, Dato Bakhtadze, Art Chudabala,
Tony Danza, Keith David, Loretta Devine, Ryan Phillipe, Jennifer Esposito.

domingo, 15 de novembro de 2009

Racismo: reportagem do Jornal EXTRA de 13/11/2009

Motorista acusa segurança de xingá-lo de 'macaco' no Salgado Filho

                                             O motorista Paulo Ribeiro Faustino denunciou na delegacia o segurança do Hospital Salgado Filho que o chamou de "macaco". Foto: Fabiano Rocha / Extra

O motorista Paulo Ribeiro Faustino, de 31 anos, registrou queixa na 23ª DP (Méier) contra um segurança que trabalha no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. Segundo Paulo, na tarde da última quarta-feira, ele foi chamado de “macaco” pelo homem quando cobrava esclarecimentos de uma funcionária da unidade.

— Houve um bate-boca entre eu e a mulher. Ele surgiu e sem que ninguém lhe dirigisse a palavra e falou para mim: “Cala a boca aí, macaco!”. Fiquei revoltado e decidi procurar a delegacia — disse o motorista.

A confusão começou quando Paulo viu que sua mãe, a aposentada Maria Lúcia Ribeiro da Silva, de 65 anos, foi retirada da cadeira de rodas onde estava e colocada em um banco por uma funcionária. Segundo ele, isso foi feito quando afastou-se um pouco para ir ao laboratório pegar o resultado dos exames da mãe:

— Ela estava com muita dor no estômago e não conseguia manter-se sentada. Por isso a coloquei na cadeira de rodas. Quando voltei, a vi toda torta, quase caindo. Uma atendente mostrou-me a funcionária que havia feito a troca de cadeiras e eu fui falar com ela.

Paulo negou que tenha sido agressivo com a mulher.
— Ela disse que outra paciente precisava da cadeira, por isso a tirou de minha mãe. Reclamei e exigi outra cadeira. Mas em momento algum fui mal educado — disse Paulo.

Depois de ser xingado, o motorista foi à Sala de Polícia do hospital e depois seguiu para a delegacia. Segundo ele, naquele momento, o segurança tentou pedir desculpas:

— Ele viu que a situação estava engrossando para o lado dele. Mas eu não aceitei. Falei que resolveria meu problema na Justiça.

De acordo com o Setor de Investigações da 23ª DP, foi instaurado um inquérito para apurar a denúncia de Paulo. Os policiais, porém, frisaram que é necessário que testemunhas compareçam à delegacia para prestar depoimento. Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que o funcionário foi afastado do hospital no mesmo dia em que Paulo fez a denúncia. Ainda de acordo com o órgão, o motorista foi comunicado sobre a medida.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O que querem as mulheres ?



Pesquisas mostram que brasileiras se
acham pouco atraentes e sonham com
uma vida que concilie sucesso profissional
com tempo para cuidar da família

Cynara Menezes
Ter sucesso profissional, colher os benefícios materiais da ascensão na carreira, mas ao mesmo tempo ser uma figura presente no dia-a-dia dos filhos e manter-se jovem, atraente e, não menos importante, equilibrada do ponto de vista emocional. Esses são os objetivos prioritários da porção feminina do Brasil, segundo uma pesquisa que ouviu 2.000 mulheres entre 18 e 49 anos, realizada pelo Ibope a pedido da Editora Abril. Trata-se de uma radiografia interessante pelo que mostra do presente e também pelo que projeta para o futuro imediato. Quando perguntadas sobre o que mais sonham ter nos próximos dez anos, nenhuma meta profissional aparece como prioridade. As mulheres dizem querer amadurecer esbanjando saúde, tendo mais tempo para os programas familiares e usufruindo uma vida sexual mais ativa (veja quadro ao lado). É um retrato bem diferente dos que emergiram nas duas décadas passadas, em pesquisas semelhantes, quando as mulheres desembarcavam no mercado de trabalho com apetite para conquistar espaço e respeito profissional – e colocavam a vida pessoal em segundo plano. "O trabalho continua valorizado, mas elas descobriram que não é excludente ao casamento e às relações familiares", diz a socióloga Sílvia Borelli, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
A pesquisa ajuda a desvendar – e a confirmar – outros aspectos da mentalidade feminina. Um deles é que as mulheres vislumbram um horizonte menos cor-de-rosa do que no passado. Elas acham que os casamentos vão durar menos e que haverá cada vez mais pessoas solitárias e sem filhos. Isso não as impede, no entanto, de nutrir o mesmo sonho de suas avós: oito de cada dez entrevistadas afirmam querer um bom casamento. Na hora de descrever o parceiro ideal, dizem estar em busca de um "companheiro" que dê provas de ser "responsável" e "fiel". Como as pioneiras que lutavam pela emancipação feminina na década de 60, as mulheres do início do século XXI continuam a usar os mesmos adjetivos para descrever os homens: autoritários, egoístas e exigentes.
As mulheres brasileiras, aponta a pesquisa feita pelo Ibope, também são muito vaidosas. Entre as suas prioridades, está a de "conquistar tempo para cuidar da aparência". A obsessão das brasileiras pelo físico fica ainda mais evidente quando se examinam os dados de uma segunda pesquisa, encomendada pela Unilever e conduzida pelas psicólogas Nancy Etcoff, da Universidade Harvard, e Susie Orbach, da London School of Economics. Dos dez países investigados, entre eles Estados Unidos, Inglaterra e França, o Brasil desponta como aquele em que as mulheres declaram estar mais preocupadas em ter um rosto bonito, a pele bem-cuidada, o corpo em forma e uma imagem sexy. É também o país campeão em consumo de produtos para unhas, tinturas de cabelo e hidratantes para o corpo. Outro número que impressiona: nada menos do que 58% das brasileiras afirmam que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi. "Considero esse dado chocante. A preocupação com a aparência é tão importante para as brasileiras que a cirurgia plástica virou parte do cotidiano", diz Susie Orbach, que tratou da princesa Diana quando ela sofria de bulimia. Compreende-se, assim, por que o Brasil se tornou o segundo país do mundo em número de plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos, onde as mulheres têm renda catorze vezes maior que as brasileiras.
Campeãs de vaidade
A comparação internacional mostra que as brasileiras são as mais preocupadas com a estética


O excesso de preocupação com a forma provoca um efeito colateral incômodo para as mulheres no Brasil. Segundo revela a pesquisa, elas vivem queixosas em relação ao que vêem no espelho. São as que mais se enxergam "gordinhas" e "pouco sexy", entre as mulheres nos dez países observados. Apenas 2% das brasileiras dizem achar-se bonitas, só ficando atrás do Japão nesse quesito (veja quadro na pág. ao lado). "Elas perseguem um ideal estético perfeito, que é irreal, e por isso estão insatisfeitas", observa Susie Orbach. A psicóloga inglesa está se referindo ao padrão de beleza das modelos que desfilam nas passarelas: magricelas de quadris estreitos, cabelo esticado e pele impecável. Uma sondagem recente feita entre jovens de 12 a 20 anos no Rio de Janeiro trouxe um dado inquietante sobre o assunto. Sete de cada dez meninas declaram fazer algum tipo de dieta para emagrecer, mesmo não tendo nenhum problema objetivo com a balança. As entrevistadas na pesquisa sobre a auto-imagem da mulher dizem não se sentir em nada identificadas com as mulheres glamourosas e de aparência perfeita que são exibidas nas propagandas da televisão. Se isso pode mudar? Dificilmente. A frustração feminina com a própria imagem e a conseqüente busca por uma aparência mais próxima dos padrões inculcados pela mídia alimentam uma indústria poderosa. Só no ano passado as brasileiras gastaram 17 bilhões de reais na compra de produtos cosméticos e de perfumaria.

Fiquem atentos!! Ética na internet!

A Internet pode ser conduzida de forma errada trazendo conseqüências desastrosas
A Internet foi criada para suprir as necessidades do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que necessitava de uma rede de computadores que não podia ser destruída por bombardeios e que conseguia ligar pontos considerados estratégicos para o país. Criada nos anos 60, no auge da Guerra Fria, a internet é hoje um veículo indispensável às empresas e instituições.
Para a globalização a internet é de grande importância, e interfere nas diferenças culturais e na forma de pensar das pessoas,
Por ser um veículo instantâneo, de alcance mundial, descentralizado, interativo, flexível e que movimenta um número surpreendente de pessoas, a Internet vem sofrendo alguns problemas éticos desde o seu aparecimento.
CRIMES NO ESPAÇO CIBERNÉTICO
Um dos problemas enfrentados no mundo cibernético são os crimes bancários e financeiros.
O comportamento criminoso no mundo real é igualmente um comportamento criminoso na internet, as autoridades civis têm o dever e o direito de fomentar as leis existentes em todos os contextos. De acordo com o presidente da Ifosp, empresa especializada em consultoria digital, Marcos Tadeu Cianfa, “tudo que é falta de ética na vida real pode ser aplicado para a realidade virtual”. .
PLÁGIO
Apesar de ser bastante corriqueiro o hábito de copiar materiais existentes na internet essa prática é ilegal. O plagiador quase sempre copia na íntegra o material já existente, não checa suas informações para saber a veracidade dos textos ou das imagens e muitas vezes utiliza informações desatualizas. A internet pode ser uma grande fonte de pesquisa, mas para utilizá-la é necessário citar a fonte proposta e aperfeiçoar o que for utilizado. Essa é a única garantia de tornar a internet um veículo seguro e de credibilidade.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Negar o acesso à informação, pela internet ou outros veículos de comunicação, é uma forma de manipular o público mediante a desinformação e a propaganda. Impedir a liberdade de expressão e de opinião é uma afronta ao jornalismo honesto e admirável. Os regimes autoritários são absolutamente os piores agressores.
CRIMES MAIS USUAIS NA REDE
• E-mails com arquivos anexados: o melhor a fazer é não abrir arquivos com qualquer extensão desconhecida;

• E-mails com pedidos de atualização de dados bancários e senhas: os bancos costumam fazer essas atualizações no caixa eletrônico ou nas próprias agências;

• E-mails que afirmam que o internauta esta numa “lista negra”;

• E-mails que anunciam que o usuário foi contemplado com um prêmio: para ganhar um prêmio é necessário a participação na promoção, a empresa costuma mandar um aviso por telegrama pra evitar fraudes e mal entendidos.

O que é Ética?

O QUE É ÉTICA ?

A origem da palavra ética vem do grego “ethos”, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduziram o “ethos” grego, para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

No nosso dia-a-dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como sinônimas. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica.

“Nenhum homem é uma ilha”. Esta famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer?

Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos - os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente.

O problema é que não costumamos refletir e buscar os “porquês” de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição, tendendo à naturalizar a realidade social, política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

No Brasil, encontramos vários exemplos para o que afirmamos acima. Historicamente marcada pelas injustiças sócio-econômicas, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-de-obra infantil, pelo “jeitinho” e a “lei de Gerson”, etc, etc. A realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas misérias de toda ordem.

Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado as mansões e os barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo etário quem procura ser honesto. Na vida pública, exemplos é o que não faltam na nossa história recente: «anões do orçamento”, impeachment de presidente por corrupção, compras de parlamentares para a reeleição, os medicamentos "b o", máfia do crime organizado, desvio do Fundef, etc. etc.

Não sem motivos fala-se numa crise ética, já que tal realidade não pode ser reduzida tão somente ao campo político-econômico. Envolve questões de valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um problema ético. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana.

A Ética vale mais que o conhecimento

Howard Gardner: "É difícil fazer o certo se isso contraria os nossos interesses"

Para o pesquisador norte-americano, autor da Teoria das Inteligências Múltiplas, no século 21 a ética vai valer mais que o conhecimento 

Foto: Marcelo Almeida
HOWARD GARDNER "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele." Foto: Marcelo Almeida

Howard Gardner, que se dedica a estudar a forma como o pensamento se organiza, balançou as bases da Educação ao defender, em 1984, que a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola. Segundo o psicólogo norte-americano, havia outros tipos de inteligência: musical, espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, naturalista e existencial. A Teoria das Inteligências Múltiplas atraiu a atenção dos professores, o que fez com que ele se aproximasse mais do mundo educacional.

Hoje, Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco mentes para o futuro, em que a ética se destaca. "Não basta ao homem ser inteligente. Mais do que tudo, é preciso ter caráter", diz, citando o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). E emenda: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".

Além de lecionar na Universidade de Harvard e na Boston School of Medicine, ele integra o grupo de pesquisa Good Work Project, que defende o comportamento ético. Esse trabalho e o impacto de suas ideias na Educação são temas desta entrevista concedida à NOVA ESCOLA em Curitiba, onde esteve em agosto, ministrando palestras para promover o livro Multiple Intelligences Around the World (Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo) ainda não editado no Brasil.

A Teoria das Inteligências Múltiplas causou grande impacto na Educação. Após 25 anos, o que mudou?
HOWARD GARDNER Durante centenas de anos, os psicólogos seguiam uma teoria: se você é inteligente, é assim para tudo. Se é mediano, se comporta dessa maneira todo o tempo. E, se você é burro, é burro sempre. Dizia-se que a inteligência era determinada pela genética e que era possível indicar quão inteligente é uma pessoa submetendo-a a testes. Minha teoria vai na contramão disso. Se você me pergunta se minhas ideias tiveram impacto significativo, eu digo que não. Não há escolas e cursos Gardner, mas pessoas que ouvem falar dessas coisas e tentam usá-las.

As escolas têm dificuldade em acompanhar mudanças como essa?
GARDNER As instituições de ensino mudam lentamente e estão preparando jovens para os séculos 19 e 20. Além disso, os docentes lecionam do modo como foram ensinados. Mesmo que sejam expostos a novos conhecimentos, é preciso que eles queiram aprender a usá-los. Se isso não ocorre, nada muda.

Como sua teoria pode ser incorporada às propostas pedagógicas?
GARDNER No livro Multiple Intelligences Around the World, lançado este ano, diversos autores descrevem como implementaram minhas ideias. Enfatizo duas delas: a primeira é a individualização. Os educadores devem conhecer ao máximo cada um de seus alunos e, assim, ensiná-los da maneira que eles melhor poderão aprender. A segunda é a pluralização. Isso significa que é necessário ensinar o que é importante de várias maneiras - histórias, debates, jogos, filmes, diagramas ou exercícios práticos.

Como fazer a individualização do ensino numa sala com 40 estudantes?
GARDNER Realmente é mais fácil individualizar o ensino numa sala com dez crianças e em instituições ricas. Mas, mesmo sem essas condições ideais, é possível: basta organizar grupos formados por aqueles que têm habilidades complementares e ensinar de modos diferentes. Se o professor entende a teoria, consegue lançar mão de outras formas de trabalhar - como explorar o que há no entorno da escola. Se ele acredita que só com equipamentos caros vai conseguir bons resultados em sala de aula, não entendeu a essência do pensamento.

A lista de conteúdos está cada vez maior. Como dar conta do programa e ainda variar a metodologia?
GARDNER É um erro enorme acreditar que por termos mais a aprender, necessitamos ensinar mais. A questão central é que várias coisas que antes tinham de ser memorizadas agora estão facilmente disponíveis para pesquisa. Colocar uma quantidade cada vez maior de informação na cabeça da garotada é um desastre. Infelizmente, essa é uma prática comum em diversos cantos do mundo. Depois de viajar muito, posso afirmar que o interesse de diversos ministros da Educação é apenas fazer com que seu país se saia bem nos testes internacionais de avaliação. E isso é ridículo.

Qual a sua avaliação sobre a Educação brasileira?
GARDNER Acredito que, se o Brasil quer ser uma força importante no século 21, tem de buscar uma forma de educar que tenha mais a ver com seu povo, e não apenas imitar experiências de fora, como as dos Estados Unidos e da Europa. O país precisa se olhar no espelho, em vez de ficar olhando a bússola.

Sua teoria inclui um um método adequado de avaliá-la?
GARDNER Gastamos bilhões de dólares desenvolvendo testes para medir o nível em que está a Educação, mas eles, por si só, não ajudam a aprimorá-la - simplesmente nos dizem quem está melhor ou pior. Para saber isso, basta olhar para as notas. A diferença dos testes de inteligências múltiplas é que é necessário aplicá-los somente naqueles que têm dificuldades. Assim, podemos verificar as formas de ensinar mais adequadas a eles, ajudando todos - e a Educação, de fato.

Os testes de QI sofreram muitas críticas de sua parte. Por quê?
GARDNER A maior parte dos testes mede a inteligência lógica e de linguagem. Quem é bom nas duas é bom aluno. Enquanto estiver na escola, pensará que é inteligente. Porém, se decidir dar um passeio pela cidade, rapidamente descobrirá que outras habilidades fazem falta, como a espacial e a intrapessoal - a capacidade que cada um tem de conhecer a si mesmo, fundamental hoje.

De que forma essa habilidade pode ser determinante para o sucesso?
GARDNER Ela não era importante no passado porque apenas repetíamos o comportamento dos nossos pais. Agora, todos necessitamos tomar decisões sobre onde morar, que carreira seguir e se é hora de casar e de ter uma família. E quem não tem um entendimento de si mesmo comete um erro atrás do outro.

Qual o desafio do mundo para os próximos anos em relação à Educação?
GARDNER Estamos vivendo três poderosas revoluções. Uma delas é a globalização. As pessoas trabalham em empresas multinacionais e mudam de país, o que é bem diferente de quando as populações não tinham contato umas com as outras. A segunda revolução é a biológica. Todos os dias, o conhecimento científico se aprimora e isso afeta a maneira de ensinar e de aprender. O cérebro das crianças poderá ser fotografado no momento em que estiver funcionando, permitindo detectar onde estão os pontos fortes e os fracos e a melhor forma de aprender. A terceira revolução é a digital, que envolve realidade virtual, programas de mensagens instantâneas e redes sociais. Tudo isso vai interferir na forma de pensar a Educação no futuro.

O livro Cinco Mentes para o Futuro aborda as características essenciais a ser desenvolvidas pelos humanos. Como isso se relaciona com as inteligências múltiplas?
GARDNER As cinco mentes não estão conectadas com as inteligências e são possibilidades que devemos nutrir. A primeira é a mente disciplinada - se queremos ser bons em algo, temos de nos esforçar todos os dias. Isso costuma ser difícil para os jovens, que mudam rapidamente de uma tarefa para outra. Essa mente pressupõe ainda a necessidade de compreender as formas de raciocínio que desenvolvemos: histórica, matemática, artística e científica. O problema é que muitas escolas ensinam somente fatos e informações.

Como lidar com o excesso de informações a que temos acesso hoje?
GARDNER Essa capacidade é dominada por um segundo tipo de mente, a sintetizadora. Ela nos aponta em que prestar atenção e como os dados podem ser combinados. É preciso ter critério para fazer julgamentos e saber como comunicar-se de forma sintética. Para os educadores, era mais fácil sintetizar quando usavam-se apenas um ou dois livros.

Qual é o terceiro tipo de mente?
GARDNER A criativa. Ela levanta novas questões, cria soluções e é inovadora. Pessoas desse tipo gostam de se arriscar e não se importam de errar e tentar de novo. Essa é a mente que pensa fora da caixa. Mas você só consegue isso quando tem uma caixa: disciplina e síntese. Por isso, o conselho que dou é dominar a disciplina na juventude para ter mais tempo de ser criativo.

O livro aponta também habilidades associadas a virtudes morais.
GARDNER Uma delas envolve o respeito - e é mais fácil explicar a mente respeitosa do que alcançá-la. Ela começa com o reconhecimento de que cada ser humano é único e, por isso, tem crenças e valores diferentes. A questão é o que fazemos com essa conclusão. Nós podemos matar e discriminar os diferentes ou tentar entendê-los e cooperar com eles. Desde que nascem, os humanos percebem se vivem em um ambiente respeitoso. Observam como os pais se relacionam e tratam os filhos, como os mestres interagem com os colegas e com os estudantes e assim por diante. O respeito está na superfície (leia mais na reportagem de capa desta edição, O que é indisciplina).

Essa última habilidade se relaciona à ética, certo?
GARDNER Sim. No que se refere à ética, é necessário imaginar-se com múltiplos papéis: ser humano, profissional e cidadão do mundo. O que fazemos não afeta uma rua, mas o planeta. Temos de pensar nos nossos direitos, mas também nas responsabilidades. O mais difícil com relação à ética é fazer a coisa certa mesmo quando essa atitude não atende aos nossos interesses. Ao resumir esses dois últimos tipos de mente, eu diria que pessoas que têm atitudes éticas merecem respeito. O problema é que muitas vezes respeitamos alguém só pelo dinheiro ou pela fama. O mundo certamente seria melhor se dirigíssemos nosso respeito às pessoas extremamente éticas.

O ideal é que as cinco mentes sejam desenvolvidas?
GARDNER Sim. No entanto, elas não se adaptam umas às outras de forma fácil. Sempre haverá tensão entre a disciplina e a criatividade e entre o respeito e a ética. Cabe a você respeitar colegas e superiores, mas, se eles fizerem algo errado, como agir? Ignorar o fato ou confrontá-los? Saber conciliar os diferentes tipos de mente é um desafio para a inteligência intrapessoal. Só você pode se entender e achar seu caminho.

Um dos focos de sua atuação, o projeto Good Work, prevê a formação de bons trabalhadores. Como eles podem ser identificados?
GARDNER Eles possuem excelência técnica, são altamente disciplinados, engajados e envolvidos e gostam do que fazem. Além disso, também são éticos. Estão sempre se questionando sobre que atitudes tomar, levando em conta a moral e a responsabilidade e não o que interessa para o bolso deles. O bom cidadão se envolve nas decisões, participa, conhece as regras e as leis: isso é excelência. Por último, não tenta se beneficiar à custa disso. Há pessoas bem informadas que só promovem o próprio interesse. O bom cidadão não pergunta o que é bom para ele, mas para o país.